Quem sou eu

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A graça do tempo da graça

No limiar dos meus 29 aninhos, se apodera de minha alma tal sentimento de que a cronologia do tempo tem se apressado em chegar e passa sem que eu tome conhecimento de sua visita, graças a sua metade oposta, o Kairós ou o tempo da graça, tempo que faz parecer que o tempo parou (como uma criança a brincar), que cada minuto, cada momento, cada passo do chronos é eterno.
O meu “desacriançar” é lento. “Desacriançar” (arte de deixar de ser criança) é um termo que aprendi com Manoel de Barros, poeta pantaneiro que com seus 90 e tantos anos é uma criança a brincar com as palavras, e a sua brincadeira me atrai e me faz viajar na sua criancice. O meu é lento. Estou prestes a “desfazer” 29 anos, aliás, aprendi com outra criança que adora brincar com as palavras e que da mesma maneira me faz entrar na brincadeira. Rubem Alves. Desfazer porque influenciado por Bachelard quando diz em seu livro A chama de uma vela, que uma vela que queima é uma metáfora da existência humana, uma vela que se apaga é uma vela que morre, Rubem Alves diz que a cada ano que passa não deveríamos dizer que fizemos tantos anos e sim que desfizemos.
Sinto que vivo esse tempo, o da graça, graça de poder respirar (ou de ter a consciência que o fato de respirar e encher os pulmões com o sopro do divino é uma graça), algumas pessoas simplesmente inspiram e expiram, graça de através do sangue que mancha o madeiro me sentir livre, de ter uma família, de gozar dos amigos, pessoas maravilhosas em que tenho meu suporte e que compartilhamos e experimentamos juntos a fusão de nossas lágrimas de dores e alegrias.
Nessas linhas, no espalhar da tinta da caneta, sinto que são gravadas no meu coração, um sentimento egoísta talvez de que é esse modo de viver, o de deixar de ser criança vagarosamente, que necessitamos e que nesse apressar cronológico ficara esquecido em algum lugar no tempo que se foi. Quero dividir aqui o meu coração e esse modo de viver.
Tempus fugit, carpem diem...


... tal qual uma criança, sorrindo e vivendo o que a vida tem de bom, a brincar!!!

sábado, 19 de maio de 2012

Árvore da minha vida

Meu peito é solo fértil, terra boa pra plantio. Como todo solo, escolhe o que produzir, o que dá aqui não dá lá, ali e acolá. Esse aqui dá amor. Qualquer sementinha, por menor que seja,cresce, vigora, se metamorfoseia num imenso Jequitibá de amor (Jequitibá, árvores de troncos de grandes dimensões, tanto em comprimento como em perímetro, em língua tupi significa “gigante da floresta”). Já chamaram isso de muitas outras coisas, mas acho que e porque não entenderam. Algumas coisas são assim, pra entender é preciso conhecer. Não digo que essas pessoas não conhecem por completo o amor, talvez não da maneira como eu o conheço somente.
O amor é meu amigo íntimo, está sempre por perto, momentos alegres e difíceis, atravessando todas as estações do meu peito. No verão, árvore formosa, copa vasta, sombra grande e reconfortante onde descansar. Chegado o outono umas folhas vão secando e caindo. Não é sinal de fraqueza, simplesmente gesto de deixar a vida mais bela com seus tons dourados de outono francês. Por vezes ele aparece, com ar devastador. O inverno. Parece até que é o fim, mero engano. É o vento que deixa a árvore forte, afirma suas raízes. Aliás, essa árvore, o amor, pertence a mesma família da amizade e das tampinhas de caneta, sempre somem por um tempo, mas nunca, nunca morrem. E é nesse momento de percalços e barreiras que, ávido de vida nova que começa a brotar flores novas e a árvore vai ganhando (restabelecendo) a beleza de outrora. É assim, esse amigo morador aqui de dentro vive novamente mais uma primavera.
Não me julguem mal, não destruam minha árvore, é dela que sobrevivo, da fotossíntese do meu amor, pegando tudo o que é vil e efêmero e transformando com esmero em ar puro para meu coração. Desculpe-me se a sombra dessa árvore te alcançou, não pode, não modele a golpes de machado a seu bel prazer, façamos juntos, em um de seus galhos um balanço e desfrutemos dessa sombra...